Desce depressa

Um médico certa vez relatou sobre um sujeito pequeno com grandes ambições, a estatura não havia estabelecido os limites para sua fome de poder e riqueza, tornara-se fiscal de fazenda, um típico cobrador de impostos. Nem tudo havia saído da forma planejada, pelo menos imagino, a reputação dele foi atingida em cheio, um golpe certamente duro,  fora estigmatizado, odiado por onde quer que passasse, e há de se convir que não era de todo sem razão, afinal, tornara-se traidor, manipulou os dados, virou às costas para à pátria e entrou de vez em sociedade com o inimigo. O tempo foi passando, então logo vieram as primeiras promoções, foi subindo pelos degraus da hierarquia perversa, nada que pudesse trazer orgulho, os pés estavam sujos pela lama.  O caminho não era perfeito. Às vezes prendia-se em pensamentos, buscando justificar sua própria conduta; olhava para a riqueza, dispensa cheia, cofre abundante,  mas às mãos marcadas pelo suor e sangue de muita gente, aquele não era um lapso de consciência, mas um devaneio completo, seu absurdo pessoal. Um homem pequeno, marcado grandemente pela sua miséria e tragédia moral. E é preciso dizer: não tem haver com estatura física, conheço gente pequena com o coração enorme, nem compreendo como cabe  tanta paixão, bondade e amor em uma pessoa só, como também conheço gente grande com o coração que não amadureceu, talvez seja uma doença, uma anomalia terrível, e o pior, cada vez mais comum.  Mas retornemos ao sentimento que vez ou outra prendia o publicano anão de sentimentos. Apesar de saber dos erros,  era melhor seguir, e é o que ele faz, até que um amigo, Mateus, colega de profissão o intrigou. De um dia para o outro, abandonou tudo, largou o posto do maldade, deu as costas para a tirania e faz às pazes com a vida de bem, a ruptura do seu amigo com o aquela vida o intriga. O que havia ocasionado aquilo? Por quais motivos ele largaria tudo? Passado alguns dias, tem-se a notícia, um homem da Nazaré havia-o convocado para um missão além da margem financeira, além dos projetos pessoais e a alfândega seria pequena demais, haveria expedientes mais nobres e importantes. Então curioso, pergunta o nome do tal homem daquela pequena cidade, então fica sabendo que se trata de Jesus e, naquele dia algo iria acontecer de especial, o Nazareno iria passar pela porta da sua casa. O pequeno homem se mistura em meio a multidão querendo vê-lo, mas parece que ele está fora do campo visual, não o vê corretamente, mas persiste, continua, um árvore pode ser a alternativa, e não é de sombra que ele precisa, é de calor no seu interior, então faz a escalada da sua vida, passo a passo, e lá de cima o vê, agora pode olhar nos olhos de Mateus seu amigo, contempla a alegria e felicidade no seu rosto, e os seus olhos cobrem-se de choro. Talvez acreditasse que não teria a mesma sorte, mas com o príncipe nazareno, não era questão de sorte, mas de propósito, de plano. E quando ele menos espera, ainda enxugando o rosto, Jesus olha para ele e diz: "Zaqueu, desce depressa, ligeiro, rápido", aquilo parecia impossível, todos olhos voltam-se à ele. O bom mestre continua: "me convém repousar, ficar, comer, sentar na sua casa". O caminho dos dois se cruzam, ele desce, uma mistura de alivio com aflição vai tomando conta dele, fala sem parar nem sequer por um instante. Quando chega lá, abraça todos, e diz: "vejam quem me encontrou". Logo abre as gavetas, conta seus segredos, confessa seus dilemas internos, o passado tinha armas poderosas contra ele, mas tinham perdido forca naquele instante, quando foi falando o peso que tudo aquilo representava fora acabando. O passado não era mais ofensivo, era como um revolver sem munição, agora quer reparar, restaurar, fazer o bem, não um bem qualquer; todo seu empenho e recursos estariam dedicados à isso.  Quer transformação e deseja mudança. Depois de tanto dizer, o Nazareno gracioso se pronuncia: "hoje salvação veio e visitou você em pessoa.  Se olhar bem perceberá que está no canto da sua mesa". Jesus não levou em conta o passado, mas levou em conta sua disposição sincera de mudança. O "desce depressa"do rabino judeu era um recado: "não dá para falar contigo nesta posição". Por mais que ele fosse baixote estava colocando-se acima dos demais. Mania de grandeza, mesmo sob o melhor dos motivos pode ser um risco. E se considerar bem, perceberá que não é muito confortável,  fazer uma escalada solitária.  Na verdade é perigoso.  Mas veja, é necessário até o pequeno descer. E não há nada melhor do que descer debaixo de uma palavra de Jesus, pois descer é o ato inicial para subir. É assim que o menor se torna maior. O forte não é o que se sustenta mais tempo sobre um posto, mas aquele que permanece no lugar que importa, e este lugar, preferencialmente é em casa, na presença de Jesus. 



Pense nisso! 



Obs: pode encarar o texto como licença poética, mas os princípios estão inseridos e pode confirmar no evangelho de Lucas 19:1-10

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