O exagero da minha mãe



Tive bronquite asmática quando era pequeno, e tinha de dividir meus dias entre a fazenda e o hospital Cristo Redentor em Bela Vista de Goiás. Minha mãe sempre preocupada fazia de tudo para que não ficasse doente. Me cobria e protegia durante os dias de frios, principalmente nas madrugadas onde precisávamos caminhar até a Kombi que nos transportava até a direção da escola que ficava à cerca de 30 quilômetros. 


Certa vez, minha tia Cleia, trouxe uma blusa chique do exterior, parecia pele de cordeiro, era grande, com revestimento interno, com bordas preparadas, costurada a mão e uma cor nada discreta, roxa, e podia ser vista de longe como ponto de referência. Nos dias frios lá vinha mamãe com a blusa chique, grande e roxa, para eu pudesse vestir. Mas antes disso, pedia que me cobrisse com outra mais fina, esta por sua vez; amarela, combinação exótica e gritantemente estilosa. 


Lá estava eu, parecendo um edredom caminhando rumo à diversão dos meus amigos na escola, alguns gentilmente me ofereciam elogios, entre eles: “Sr Beterraba” ou "Barney" com febre amarela. Todos simpáticos e de uma exaltada criatividade. Comecei a ter vergonha da tal blusa de frio roxa, e por vezes passava frio para não passar por aquele vexame. Quando chegava à porta do colégio, tirava logo aquele carneiro com pele colorida dos meus ombros, arrancava o material da mochila, colocava a blusa fruto do exagero da minha mãe lá dentro e entrava na aula. Mas isso não me poupava da sutil recepção dos acalorados colegas no dito corretor polonês. Por sinal, nada amigo aquilo. 


A blusa que minha mãe insistia que usasse rotineiramente parecia exagerada, mas no fundo, aquele exagero todo era amor, e representava o cuidado de alguém pela minha vida frágil, que muitas vezes adoecia facilmente. Eu, claro, tinha um pensamento oposto; interpretava como ridículo algo que me assegurava saúde e conforto. Infelizmente não percebia, achava que aquilo expunha-me ao ridículo e por isso sempre a tirava na primeira oportunidade. O exagero da minha mãe era amor, que servia para aquecer e não sufocar. Não era para me expor, pelo contrário, era para me guardar, manter-me seguro e salvar. Por vezes minha mente ficou ocupada demais com o que às pessoas diziam e tive de provar o frio mais duro para perceber a minha tolice. 


Me despi muitas vezes, tentei disfarçar e me desvencilhar do amor de alguém que só queria me proteger. Tirei a pele do cordeiro que me cobria, quando na verdade deveria deixar que aquecesse, protegesse e pudesse me manter continuamente em segurança. 


Esse tipo de exagero faz falta, vai por mim.  




Eduardo Mendes

Comentários

  1. Meu Deus! Essa história fica cada vez melhor, pois fala comigo de diversas formas. Te amo meu pastor!

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