Quintas, Saudades e Empadas!

Era quinta-feira, o dia com muito sol e agitado. Havia uns quatro dias que não à encontrava. Nosso último encontro não havia sido dos melhores, liguei para ela mais cedo e como imaginara estava brigando com as malas, tentei um almoço, mas ela estava corrida e então definimos nos encontrar na rodoviária. Lá fui eu correndo para não me atrasar, estava ansioso, com medo de não saber o que dizer, tinha ensaiado algumas palavras que não saíram quando a vi. Já explico isso melhor. 
Para variar, peguei uma rua errada, entrei do outro lado da rodoviária, estava em obras, deixei meu carro à distância, pertinho, era só atravessar a rua e foi o que fiz. Já lá dentro à procurei, ela estava sentada já no embarque, minhas mãos soavam, meu coração já estava acelerado e minha respiração já ofegante. Quando a encontrei, era uma menina, meio estilo maloqueira, de tênis tipo emo, com o paletó amarrado entre a cintura, maquiagem feita, brincos novos, estava linda como sempre. Consegui dar um "Oi" meio sem jeito ela se levantou e me deu um beijo. Olhei do lado e havia duas malas enormes, parecia que ela estava mudando-se. De uma coisa tinha certeza; se a roupa acabasse no mundo, pelo menos ela teria bastante coisa para usar e quem sabe até vestir uma cidade toda. Percebi que estava ansiosa, falante e com os olhos ainda pouco avermelhados, os lábios frios e um pouco suados, estava tensa, com um pouco de medo e um ar de aflição.
Logo ela teve uma ideia brilhante, andar no shopping da rodoviária com as malas gigantes. As super malas tinham cores discretas, quase "impercebidas"; um rosa medonho. Eu peguei a mais pesada, e fui arrastando aquilo pelos corredores, parecia que estava carregando alguém na mala, disse isso enquanto paramos para fazer um lanche, ela sorriu, queria tirar um pouco do peso da viajem, fazer que aquele momento se tornasse mais leve,  pedi uma empada para nós dois, ela comeu duas. Eu nunca pensei que iria ficar meio paralisado enquanto via alguém comer uma empadinha, aquela seria a primeira vez. Tirei fotos ótimas, ela não gostou muito, mas deram boas risadas, até fiz um vídeo, e assisto quase todo dia para matar a saudade. Nunca pensei que ficaria com vontade de comer empada de novo, bem, estou querendo reviver aqueles momentos do corredor e do lanche e ainda restam muitos dias pela frente. Antes de finalizar, fomos ás compras, ela queria levar seu estoque de comida, faltavam poucos minutos antes da partida do ônibus, então fomos em mais algumas loja na companhia das malas gigantes, entramos na loja, ela foi conduzida para a ala dos que não sabem cozinhar, sim, das bolachas, para o kit de sobrevivência dos solteiros, conheço bem isso. Lá estávamos nos dois, eu tirando mais alguma leva de fotos da pilha de coisas que ela comprava, ela sem graça, rindo de si mesma com aquele volume todo de besteira na mão. Passava uma senhora na hora, surda, fiz uma brincadeira, mas não deu certo, ela riu da minha tentativa fracassada de tirar uma onda com ela.
Eu parecia um bobo falando um monte de coisa, queria aproveitar mais aqueles minutos que ainda me restavam diante de uma pessoa especial. Terminamos as compras, tinha um outro desafio, colocar tudo na mala, fomos até o lugar de embarque, ela abriu a mala, enfiou o kit sobrevivência lá dentro e percebi que a hora tinha chegado, aquele discurso que eu iria fazer não havia saiu, nem a metade das coisas que queria foram ditas. Estava com uma estranha sensação de perca, medo de não vê-mais, preocupado com a distância, e se ela dormisse? E se acontecesse alguma coisa? A quem ela recorreria? Mas era apenas a aflição de alguém que quer ceder gratuitamente cuidados. Sentamos e vi aproximar-se os minutos e, aos poucos, o semblante de euforia e medo se instalava, ela estava com os olhos vermelhos, algumas lágrimas desceram e seu choro comprimiu meu coração, abracei-a, e disse apenas algumas poucas palavras: "vai dar tudo certo, Deus está no controle, vai ficar tudo bem, calma". O discurso pode até não ter saído, talvez eu estivesse mais nervoso do que ela, tinha suor nas mãos, não era o momento mais tranquilo que já havia passado. Mas percebi: mais do que palavras, era a minha presença ali que importava. Acompanhei-a até o ônibus, deixamos as malas rosas e ela se despediu, guardo o beijo no rosto da despedida, meu olhar de longe vendo ela andando pelo corredor do ônibus até desaparecer. Foi um dia marcado por uma mistura de sentimentos, de saudade, de temor e alegria. Virei cliente acidulo do tio das empadas.




Att, 

Eduardo Mendes 

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