SOBREVIVENDO EM TEMPOS DE AFLIÇÃO


Em nosso último encontro de domingo, compartilhei uma mensagem que tocou profundamente meu coração e, pelo que pude perceber, também ressoou em toda igreja. Baseado nas palavras de Jesus em Mateus 11:16-17, onde Ele questiona: "Mas a quem assemelharei esta geração? É semelhante aos meninos que se assentam nas praças, e clamam aos seus companheiros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes."
Vivemos em tempos desafiadores, onde a verdade absoluta tem sido constantemente questionada e relativizada. Nossa sociedade contemporânea transformou-se gradualmente em um ambiente cada vez mais frio e caótico. Aqueles que deveriam ser os pilares da fé tornaram-se comerciantes do sagrado, vendilhões do templo moderno. Observamos uma realidade perturbadora: pessoas que não mais choram diante do luto, nem se alegram com momentos de celebração.
Nossa geração tem sido marcada por uma crescente infantilização emocional e espiritual. Muitos perderam a capacidade de enxergar e sentir genuinamente. Pessoas que deveriam experimentar a verdadeira liberdade encontram-se aprisionadas pela ansiedade e por uma religiosidade simbólica, vazia de significado real para o coração. A compaixão, que deveria ser uma resposta natural ao sofrimento alheio, deu lugar à indiferença e à imobilidade.
Homens e mulheres que deveriam ser a expressão viva da justiça e bondade divinas na terra, manifestando alegria plena, acabaram silenciados, emudecidos pelas circunstâncias. Paradoxalmente, aqueles que deveriam falar estão calados, enquanto os que deveriam se calar por prudência propagam tolices incessantemente, especialmente nas redes sociais e outros meios digitais.
As manifestações sobrenaturais de Deus, seus dons e maravilhas, foram maculados pela teatralidade e pela performance vazia. Assistimos ao surgimento de uma cultura de simulação, onde até mesmo experiências profundamente humanas como a maternidade são simuladas (reborn), dando lugar a relações plásticas e artificiais. Pessoas carentes de amor autêntico dissimulam seus sentimentos, tornando-se escravas de seus próprios desejos e aprisionando-se por dentro. Tudo isso é consequência de uma sociedade espiritualmente enferma, desconectada da verdade transformadora do evangelho.
Na vida espiritual contemporânea, percebemos a ausência de celebração genuína. Não há mais manifestações espontâneas de alegria, nem vivacidade na adoração. Os "aleluias" e "glória a Deus" perderam sua força e autenticidade. Muitos se apaixonam e gritam por causas secundárias, enquanto permanecem sentados no banco da incoerência espiritual. Poucos clamam pela misericórdia divina ou celebram sua graça. Raros são aqueles que choram pelos perdidos ou festejam quando almas se rendem ao Senhor.
No âmbito dos relacionamentos conjugais, observamos um fenômeno preocupante: casais que, com o passar dos anos, transformaram-se em meros amigos, perdendo a intimidade e a conexão profunda. Suas relações tornaram-se burocráticas, parentais, adoecendo gradualmente. Muitos assistem passivamente a essa tragédia sem se levantar ou ao menos chorar pela situação. Testemunham o definhamento do amor sem que haja quem se erga em fé, com coragem para ser instrumento de esperança conjugal.
Diante desse cenário desafiador, do que realmente precisamos? Necessitamos urgentemente de pessoas que sintam profundamente, que ouçam atentamente e que creiam firmemente. Como nos lembra a passagem de 1 Reis 18:21, quando Elias confrontou o povo: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o."
Em primeiro lugar, precisamos dos "Elias" que não se calam. Pessoas que resistem firmemente ao mal e recusam-se a se associar com as trevas. Indivíduos corajosos que se posicionam em Deus, mesmo quando estão em minoria, permanecendo fiéis ao Senhor mesmo diante da apostasia e sob intensa pressão social. Elias não buscava popularidade ou "likes"; sua motivação não era agradar multidões, mas sim o Senhor de todo o coração. Seu sucesso ministerial não se media pela quantidade de seguidores, mas pela fidelidade inabalável.
Deus está levantando novos profetas em nosso meio. Homens e mulheres que cultivam uma vida de oração no oculto, mas que se manifestam com extravagância nas praças e esquinas. Pessoas que desenvolvem intimidade com Deus em seu secreto, mas que são ousadas ao proclamar Sua palavra. Servos que choram no deserto, mas que, mesmo em meio à tristeza, reconhecem que Deus é sua única e verdadeira esperança. A ênfase fundamental permanece: só o Senhor é Deus!
Em segundo lugar, precisamos dos "Jeremias" que choram. Como lemos em Jeremias 9:1: "Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em uma fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo." Necessitamos de pessoas que expressem a dor divina através de suas lágrimas, irmãos que chorem enquanto outros zombam. Precisamos de corações genuinamente circuncidados por Jesus, que mesmo diante da insensibilidade e dureza ao redor, manifestem devoção sincera a Deus.
Jeremias não era popular nem fazia parte da elite religiosa. Não prometia bênçãos fáceis ou prosperidade imediata. Ao contrário, oferecia confronto e lágrimas a uma nação que havia se desviado dos caminhos do Senhor. Precisamos de homens e mulheres de Deus capazes de chorar por aquilo que faz o céu chorar, pessoas que amam mais a verdade do que o aplauso humano.
Por fim, precisamos daqueles que fazem festa pela vinda do Noivo. As bem-aventuranças em Mateus 5:4-12 nos lembram que os que choram serão consolados, os mansos herdarão a terra, e os perseguidos por causa da justiça receberão o Reino dos céus. Como o anjo anunciou em Lucas 2:10: "Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo."
O nascimento de Jesus foi anunciado com cantos angelicais. A volta do filho pródigo foi celebrada com música e dança. O cego Bartimeu, ao recuperar a visão, saltou de alegria. O paralítico curado levantou-se em louvor. João Batista trouxe a mensagem do arrependimento, mas o povo assistiu sem chorar. Jesus trouxe as boas novas, a festa, o novo, mas muitos foram incapazes de se alegrar.
É significativo que Jesus tenha iniciado seu ministério público transformando água em vinho em uma festa que estava acabando. A flauta mencionada por Jesus em Mateus 11 representa a nota de graça sendo emitida, um convite para a celebração. Simboliza a restauração das fraturas espirituais, a cura da alma e a reconciliação entre Deus e os homens, entre os céus e a terra.
Infelizmente, há muitos que não dançam, não celebram, não fazem festa. Alguns equivocadamente associam santidade com tristeza, como se a vida em Deus fosse desprovida de alegria. Precisamos redescobrir a verdadeira essência do evangelho: uma mensagem de renovação, esperança e alegria mesmo em tempos de aflição.
Sobreviver em tempos de aflição requer que sejamos como Elias em nossa coragem de proclamar a verdade, como Jeremias em nossa capacidade de chorar pelo que é justo, e como aqueles que celebram a presença do Noivo em nossas vidas. Somente assim poderemos experimentar o verdadeiro renovo espiritual que tanto necessitamos nestes dias desafiadores.


Paz e bem,
Pr Eduardo Mendes

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