Por que os pastores se matam?

Um texto do Ed. René Kivitz me chamou a atenção, no 25 de março de 2021, em sua conta de Instagram. Ele fez uma indagação importante sobre o suicídio de pastores. Tenho o maior respeito pelo René, e sei que este tema é absolutamente importante. 


Logo abaixo segue a íntegra do texto do Ed Kivitz.

 

"Outro dia ouvi que precisamos de uma reforma teológica e eclesiológica no Brasil porque as igrejas estão aceitando gays, defendendo aborto, sendo perseguidas ideologicamente, transformando cultos em espetáculos em busca de crescimento fácil, e seus pastores estão deprimidos e até mesmo tirando suas próprias vidas.

Por que os pastores se matam? Seria por que os homossexuais reivindicam pertencimento à igreja? Ou por que as mulheres que assistem suas filhas e iguais morrerem em clínicas clandestinas de aborto país adentro, a maioria abandonada pelos homens, reivindicam a descriminalização do aborto? Ou seria por que o marxismo cultural ameaça a fé, a família e o futuro do país?


Por que os pastores se matam? Não poderia ser porque se tornam as novas vítimas da maldita e milenar religiosidade dogmática, legalista e hipócrita, desumana e idólatra de mamon, que mata e apedreja os profetas? Não poderia ser porque morrem aos poucos, até que não lhes sobra brilho nos olhos e vigor na alma, e chegam ao ponto quando tirar a vida já não lhes parece o maior dos males? Não seria porque quando ousam pensar diferente do fundamentalismo conservador e dos que se julgam donos das denominações históricas, sofrem nas mãos desses neo-inquisidores incapazes de celebrar a liberdade do Evangelho? Não poderia ser porque a prática pastoral institucionalizada devora as utopias que levaram os jovens aos seminários, transformando-os em profissionais de uma religiosidade estéril e hipócrita, monitorada e financiada por homens que reencarnam o pior da tradição dos escribas e fariseus, fermento que leveda a massa, adoece a alma e mata os sonhos? Não poderia ser porque somente os cínicos conseguem atravessar a vida como profissionais da religião? Não poderia ser porque algumas sensibilidades não suportam o peso do mundo? Enfim, por que os pastores se matam?" 


Por que os pastores se matam? 


Uma reflexão importante, a qual em aspectos, concordo. Todavia, usar uma verdade para apoiar financiar uma falsa premissa, é duvidoso. É fácil acusar o fundamentalismo histórico e dizer que ele é nocivo e tóxico, sendo que, este, não só se define pela questão ortodoxa, mas também pela infalibilidade de textos sagrados. Denunciá-lo, afim de produzir uma defesa progressista, com agendas próprias, que nem de longe são pró-vida, como no caso do abordo, é deslealdade intelectual. A igreja não precisa de reforma eclesiástica,  nisto também concordo, ao mesmo tempo que não precisa de ter agenda liberal progressista para se dizer moderna.

Ela precisa se servir dos limites, dos padrões bíblicos e de premissas que não são utilitárias, ou seja, que não se definem pela maioria de pensamento, mas pela revelação que já fora outorgada. A doutrina de Jesus é simples, escandalosa, e aos fariseus, estes sim, fundamentalistas de ocasião, enigmática, e de difícil compreensão, pois não é o contexto de vida, com renúncias e abstenções que levaria-os ao pleno conhecimento de Deus. Afinal, o rito formal deveria ser substituído gratuitamente pelo cumprimento profético, e a partir dele, fé. A lei amor sobre a lei formalidades e das exceções, a segunda caducou a primeira. No lugar de exclusividade; abrangência, aceitação, filiação e inclusão. Tudo isso? Sim, através do ato consumado de Deus. Mas isso não significa que os padrões morais de Deus mudaram, e que agora ele tem uma agenda liberal. 


Portanto, poderia assim dizer: a fé inclui. E quem pensa diferente não compreendeu direito. Os desafios deste tempo estão postos e são inúmeros, mas isso não explica o motivo pelo qual os pastores decidem tirar sua própria vida. Seria porque a igreja não sabe lidar com homossexualismo? Ou por dizer não ao aborto enquanto eles querem dizer sim? Ou porque a igreja virou instrumento de arranjo financeiro? 


Mas dizer que o problema é exclusividade da religião fundamentalista, separatista, ortodoxa e conservadora, e se eximir da responsabilidade da prática do amor e zelo com nossos irmãos, não corrige a falta de vigor e brilho nos olhos.


E também não explica o porquê do Rev René, usar o texto implicitamente para expor um tipo de agenda. Como se resumidamente A fosse a causa de B.


Ou quem sabe poderia ser falta de amor, acolhimento, proteção, cuidado, pastoreio, amizade, relacionamento? Não seria porquê o pastor vive uma vida solitária e por vezes não tem com quem contar? 


Vale a pena pensar!  


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